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Império Gana


Império de Gana


Império de Gana localizou-se na região Sahelo-sudanesa. O Sahel é uma área entre o deserto do Saara e as florestas tropicais. No século IV, o período em que se formaram os Estados Nacionais, era uma área maior. Os soninquês, por exemplo, habitavam uma área saheliana que hoje já foi tomada pelo deserto. Isso porque, há 10 mil anos, uma parte relativamente pequena de deserto começou a se expandir e tomar as proporções gigantescas que o Saara tem hoje.




A adoção do dromedário permitiu que os berberes se tornassem senhores do deserto no século III. Com este meio de locomoção, o deserto deixou de ser um "mar" que separava, para unir o Mediterrâneo à África. A partir de então, as comunidades ditas “cameleiras” reduziram à obediência ou à servidão, habitantes do oásis e passaram a ter no saque, na proteção das caravanas e no comércio novos meios de aquisição de riquezas. Os povos agrícolas (do Sahel e da savana) receberam os rebanhos dos pastores (do deserto e do Sahel) e, vale lembrar, é nesse encontro de culturas que surge a escravidão. Porque os povos agrícolas estavam acostumados a receberem os berberes com seus rebanhos que necessitavam de pastos nos meses de estio. Então se praticava o comércio, os pastores berberes entregavam cavalos, leite, sal, e recebiam cereais e outros produtos da terra. Só que quando os pastores ficavam tempos demais, raptavam mulheres, profanavam locais sagrados e o resultado desses conflitos eram, muitas vezes, pessoas feitas cativas pelos nômades.

O comércio transaariano foi um fator permissivo do desenvolvimento dos Estados Nacionais e da escravidão, visto que passaram a incorporar o saque às suas atividades econômicas, ou seja, o respeito entre nômades e sedentários já não existia mais, é possível que um desses grupos tenha se imposto como nobreza armada aos sedentários, acelerando o processo de escravidão política e criação de Estados. Mas, segundo Alberto Costa e Silva, é mais provável que pela pressão dos nômades sobre as terras dos agricultores, estes tenham reforçado suas estruturas de poder local para melhor resistir.

O Império de Gana surgiu por volta do século IV como Estado centralizado. As fronteiras ocidentais seguem a linha do rio Senegal; as orientais perto de Tombuctu; embaixo são delimitadas pelo rio Níger e acima pela linha de Tebferilla. Costuma-se dizer que a origem do Império Gana remonta aos soninquês. O soninquê é um povo que habitou o Saara Ocidental antes dessas áreas se desertificarem - antes de Cristo. Ki-Zerbo fala da hipótese descrita no Tarik al Fettach, que Gana teria sido originada por uma dinastia de príncipes brancos e que os soninquês teriam tomado o controle do Império quando de tanto se "cruzarem" uma dinastia puramente negra surgiu. Mas a hipótese é frágil por que fora escrita 12 séculos depois do acontecimento e serve mais do que outra coisa para dar prestígio para as famílias nobres depois da dominação islâmica. A origem com os soninquês é a que parece mais aceitável, pois eles teriam se fortalecido e se fechado para se defender de ataques.

Para tratar da organização política de Gana, é importante frisar alguns conceitos, como o de Estado, o qual, segundo o Dicionário Aurélio, seria um povo que ocupa determinado território, sendo dirigido por um governo próprio - a idéia de Estado estaria ligada à de nação soberana ou divisão territorial. O Império seria um governo com influência dominadora. Império, visto sob a perspectiva romana, estaria associado à expansão territorial. Reino, no Dicionário Aurélio, aparece como uma monarquia. Enquanto Monarquia seria uma forma de governo na qual o poder supremo é exercido por apenas um monarca.

Por não possuir vontade de se expandir territorialmente, não ter tentado unificar todos os povos dentro de seus domínios, de acordo com a visão romana não podemos considerar Gana um Império. Segundo Alberto Costa e Silva, era um reino por ter um soberano, um sistema monárquico, mas também um Estado, por possuir governo próprio. Havia uma esfera de influências, vários povos próximos à Gana não respondiam diretamente ao rei, mas lhe pagavam tributo. A soberania não era exercida sobre a terra, mas sobre os homens. O monarca não estava interessado em ampliar seu poder pela adição de novos territórios, mas em submeter números crescentes de grupos humanos que lhe pagassem tributo e pudessem fornecer soldados.

Quanto à sucessão ao trono, ela era matrilinear: era o filho da irmã do rei que lhe sucedia. Segundo Ki-Zerbo, o escritor árabe Al Bakri diz que era para assegurar que o sucessor fosse sempre de sangue real, já que seu filho poderia não ser realmente seu filho. Mas Ki-Zerbo também cita Cheik Anta Diop, para dizer que o sistema matrilinear foi prática comum aos povos africanos e ligada ao seu caráter agrícola e sedentário.

Estima-se que na segunda metade do século IX os azenegues tenham conquistado Audagoste, fato de extrema importância para compreender os motivos que levaram Gana ao seu apogeu. Os azenegues figuravam entre os berberes. Dividiam-se em grandes grupos e controlavam rotas comerciais. Enquanto isso, Audagoste era uma pequena cidade, segundo o Costa e Silva, fundada por volta do século sete. Apesar de recente, era um centro agrícola, artesanal e mercantil. Os azenegues conquistaram Audagoste na segunda metade do século nove. O grande chefe azenegue vivia no deserto e ia de vez em quando a Audagoste. Esta e Gana se completavam. Audagoste controlava o comércio de sal e a saída para o deserto e Gana o ouro e as trilhas para a savana e o cerrado. De acordo com Costa e Silva, no início do século XI os soniquês subiram até Audagoste e lá puseram seu rei. Assim, o poderio de Gana atingiu seu apogeu, com seu soberano dispondo de grandes forças militares.

Os arqueiros militares eram em torno de 40 mil durante o apogeu. Usavam arcos pequenos e flechas com bico de ferro. O alcance da arma era curto, mas os arqueiros eram temidos e decisivos nas batalhas. Uso de eqüinos segundo Costa e Silva, Al Bakri diz que os eqüinos de Gana eram pequenos. O desconhecimento da sela, do estribo e do freio reduzia o impacto do cavalo como animal de guerra. Mas não os excluía das batalhas, já que a montaria fornecia certa mobilidade. O cavalo aparecia como sinal de prestígio. É também provável a existência de tropas camaleiras, inclusive o uso do dromedário para a captura de escravos. A infantaria era a força básica do Exército de Gana, sendo mais de 100 mil soldados, a qual demonstra, portanto, a força militar alcançada pelo Império.

O cavalo, visto que era ligado à pompa do estado, era o transporte do soberano. O gana só montava a cavalo e percorria a cidade, duas vezes entre cada levantar e pôr-do-sol, acompanhado pelos grandes do reino. A comitiva era precedida por tambores e pífaros, sendo os tambores utilizados em rituais ligados à religião e à corte, como mais tarde seria comum em quase todos os desfiles reais por África. Parece certo que havia tambores especiais para cultos religiosos e cerimônias da corte. O gana estava vestido de túnica, assim como o herdeiro presuntivo. O gana e seus escravos, cavalos cerimoniais e cachorros andavam ornamentados com muito ouro. Aos súditos era vedado usar túnicas ou roupas que sofressem costura, apenas podiam usar longos cortes de tecido, quando as posses o permitiam. Ao verem o gana, jogavam areia sobre suas cabeças. Os muçulmanos aplaudiam o rei.

Quando morria o gana, erguia-se uma grande cabana de madeira para acolher seu corpo. Ali se colocavam suas vestes, suas armas, os objetos que usara para comer e beber, e comida e bebidas. Conduziam-se para dentro do que seria o túmulo os criados que tinham servido ao rei. Ki-Zerbo diz que isso era para prevenir que não ocorreriam envenenamentos. Vedava-se a porta. O povo jogava terra sobre a cabana, até que houvesse uma espécie de colina. Ao redor, cavava-se um fosso. Ao morto, eram oferecidos sacrifícios humanos e bebidas fermentadas.

O ouro era taxado em forma de tributos ao gana, para manter sua numerosa corte. O minério refinado era para o rei, já o ouro em pó era de quem encontrasse. A obtenção de ouro é um processo curioso. Passadas as cheias, cavavam-se poços quadrados, de uns 75m de lado, que raramente iam abaixo dos 20m. À medida que os poços desciam, suas paredes iam sendo reforçadas por vigas de madeira e nos lados uma grade de varas que servia também de escada por onde baixavam os mineiros. Cavavam-se túneis horizontais e mandavam em cabaças o minério para a superfície e este era catado pelas mulheres ao entardecer. São hipóteses levantadas de como se extrai atualmente.

O ouro viria ali ter não só de Bambuk e Buré, mas também de Lobi. E. Jenné poderia já ser então seu importante entreposto. Há uma hipótese mais simples: situando-se Bambuk dentro da forquilha formada pela confluência do Falemé com o Senegal, teria sido confundido com uma ilha. O sal, artigo raro, era permutado muitas vezes por igual peso de ouro, ou mesmo o dobro. As principais rotas utilizadas para o entreposto de sal e outras mercadorias do Magreb pelos lingotes de ouro eram: Gana a Sijilmessa, Tafaza, Audagoste e Tagante(azenegues). De Gana a Sijilmessa se atravessava durante dois meses desertos absolutos, pelos quais se podia marchar 14 dias sem encontrar água. A de maior fortuna teria sido a que passava por Tagaza, um centro onde se trocavam as mercadorias do Magreb pelo sal que se ia vender no Sudão. Já no Audagoste e no Tagante, as rotas eram controladas pelos azenegues, que se haviam convertido a um maometismo exigente e militante.

Os zanatas controlavam o comércio na cidade de Sijilmessa e também alguns entrepostos em Audagoste. Com o desejo de também ter por seu domínio estes entrepostoso, os Almorávidas se lançam cada vez mais ao sul do Marrocos e passam a ter um controle mais eficiente nos comerciantes zanatas de Audagoste.

Com o impasse que se seguia entre os azenegues do deserto, Abubacar se retira do Marrrocos e deixa no seu lugar Yusufe Ibne Tashfin, que era seu primo, e também sua mulher Zoinabe, de quem se divorcia. Passada a ruputura que afluía no deserto, Abubacar volta ao Marrocos, porém seu primo não lhe devolve o poder em partes.
Paralelo ao desmembramento em duas “facções”, a do norte e a do sul, ambas cada vez mais buscavam expandir seus domínios, o que acarretará mais adiante na morte de Abubacar em 1070, em uma homogênea ocupação Almorávida do ebro ao Sael, sob o comando de Yusufe.

As “tribos” azenegues estavam cada vez mais inerentes ao domínio almorávida que se concentrava no Marrocos. Desta maneira, o declínio começava a se assentar nas várias tribos azenegues que passaram a oferecer ataques repentinos aos “grandes senhores Almorávidas”.

Os almorávidas deixaram grande contribuição para a islamização de grande parte das populações do norte do Sudão Ocidental, sobretudo os soninquês que iriam se transformar em fervorosos catequistas, além de um rompimento com o equilíbrio entre a agricultura e a pecuária existentes no Sael, substituindo terras que eram cuidadosamente lavradas por campos de pastoreio e a conversão pelos azenegues a seu modo de vida de alguns núcleos que abandonaram a lavoura pela criação de gado e aderiram ao nomadismo. Com os rebanhos numerosos, cedo desertificaram o que então era o Sael e saelizaram o que então era savana. Certos reis e nobres sudaneses começaram a usar até mesmo o véu sobre o rosto, o litham.

Em 1203 ou 1204, os Sossos tomaram militarmente Gana e muitos mercadores soninquês emigraram para outras terras, especialmente para um lugarejos que crescerá com o nome de Ualata e se transformará no mais importante porto caravaneiro do Sudão Ocidental.